As dores neuropáticas atingem a região orofacial e são normalmente originadas a partir de uma lesão em algum nervo da face. A dor muito intensa, muitas vezes contínua e com duração de horas pode, inclusive, requerer terapia com uso de anticonvulsionantes e antidepressivos. Entretanto, esses sintomas são muito similares aos da pulpite (dor de dente), levando a muitos erros no diagnóstico e, consequentemente, de tratamento. Durante seu doutorado pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, o dentista André Porporatti desenvolveu um método que permite o diagnóstico mais preciso da dor neuropática.
O estudo faz parte da tese de doutorado de Porporatti e foi apresentado pelo orientador do trabalho, o professor Paulo César Rodrigues Conti, no 39º Encontro Científico Anual da Academia Americana de Dores Orofaciais, realizada entre os dias 7 e 19 de maio na cidade de Denver, Colorado, nos Estados Unidos, obtendo o primeiro lugar entre todas as pesquisas apresentadas. O trabalho teve coautoria de Yuri Martins Costa, Juliana Stuginki-Barbosa e o do professor Leonardo Rigoldi Bonjardim, integrantes do Bauru Orofacial Pain Group, grupo de pesquisa em Dor Orofacial da FOB, coordenado pelo professor Conti.
Segundo o pesquisador, a dor neuropática tem como principal causa uma lesão em um dos nervos da face. “No caso das neuropatias, por algum motivo, o nervo fica inflamado, levando a uma inflamação neurogênica, como se estivesse com um ‘fio desencapado’”, explica. Já a pulpite é ocasionada por cáries, infecções no dente ou pela inflamação do canal dentário e quando tratada de modo correto, o paciente deixa de sentir dor. “Mas em caso de um diagnóstico equivocado, que levou a dor neuropática ser tratada como pulpite, o paciente continuará sentindo dor mesmo após os tratamentos”, explica o dentista. A prevalência de dor neuropática é de 3% a 6% em pacientes que passaram por tratamento de canal e entre 7% a 9% em outros casos.
A dor neuropática é mais rara. No entanto, no consultório dentário, o paciente relata como se fosse uma dor de dente, e o profissional, no dia a dia da clínica, tem dificuldades em diferenciar, visto que os sintomas são muito semelhantes. “Tivemos então a ideia de desenvolver algo para ajudar o dentista a diferenciar um caso do outro”, explica.
Os pesquisadores selecionaram nas clínicas da FOB três grupos de pacientes, sendo 20 com diagnóstico de pulpite, 20 com diagnóstico de dor neuropática e 20 para o grupo controle (sem dor). “Já existem critérios para o diagnóstico de dor neuropática, mas não são utilizados em ambiente clínico, como rotina”, esclarece. Um dos critérios utilizados para selecionar os pacientes com dor neuropática é a presença de dor persistente e continuada, no dente ou na gengiva ao redor dele, com duração de mais de 8 horas por dia, mais de 15 dias ao mês, por mais de 3 meses. Também foram feitos exames como tomografia para excluir outras possíveis causas de dor.
Testes sensoriais
Os pacientes selecionados passaram por vários testes sensoriais, sendo três deles os principais e que poderiam ser utilizados pelos profissionais da odontologia em suas clínicas para diferenciar a dor neuropática da pulpite. O primeiro é o de mensuração da dor presente após um teste inócuo ou indolor, que consistiu em friccionar levemente um cotonete na gengiva dos pacientes no local onde ocorria o incômodo. Os que relataram dor foram identificados como dor neuropática; os que não relataram dor foram identificados como pulpite.No segundo e no terceiro testes, foi mensurado o limiar ao tato e à dor de todos os pacientes por meio de filamentos de nylon denominados de estesiômetros ou monofilamentos de Von Frey. Esses filamentos permitem que o profissional imprima uma menor ou uma maior força de carga na gengiva. No caso do tato, os pesquisadores constataram que os pacientes que tiveram o limiar com uma força aplicada maior que 1 grama por milímetro quadrado (g/mm²) e os que tiveram um limiar de dor maior que 10 g/mm² apresentaram possibilidades maiores de um diagnóstico de dor neuropática. Segundo o Porporatti, o custo médio de um kit de estesiômetros é de cerca de R$1.200,00 e poderiam ser utilizados na prática clínica de dentistas.
Os pacientes selecionados passaram por vários testes sensoriais, sendo três deles os principais e que poderiam ser utilizados pelos profissionais da odontologia em suas clínicas para diferenciar a dor neuropática da pulpite. O primeiro é o de mensuração da dor presente após um teste inócuo ou indolor, que consistiu em friccionar levemente um cotonete na gengiva dos pacientes no local onde ocorria o incômodo. Os que relataram dor foram identificados como dor neuropática; os que não relataram dor foram identificados como pulpite.No segundo e no terceiro testes, foi mensurado o limiar ao tato e à dor de todos os pacientes por meio de filamentos de nylon denominados de estesiômetros ou monofilamentos de Von Frey. Esses filamentos permitem que o profissional imprima uma menor ou uma maior força de carga na gengiva. No caso do tato, os pesquisadores constataram que os pacientes que tiveram o limiar com uma força aplicada maior que 1 grama por milímetro quadrado (g/mm²) e os que tiveram um limiar de dor maior que 10 g/mm² apresentaram possibilidades maiores de um diagnóstico de dor neuropática. Segundo o Porporatti, o custo médio de um kit de estesiômetros é de cerca de R$1.200,00 e poderiam ser utilizados na prática clínica de dentistas.
Os outros testes realizados nos pacientes são mais técnicos e tiveram o objetivo de avaliar, nos pacientes com dor neuropática, qual fibra nervosa em que se encontra o problema. Os pesquisadores estudaram três das quatro fibras nervosas existentes na região orofacial: A Beta, A Delta, e Fibra tipo C. “O objetivo desta parte da pesquisa foi avaliar a fisiopatologia da dor neuropática, para compreender um pouco mais sobre essa doença, pois há poucos estudos nesta área”, diz o pesquisador. “Ao saber exatamente em qual das fibras está a origem da dor neuropática, seria possível desenvolver medicamentos específicos para tratar a doença”, finaliza.
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